O terceiro setor e a nova ética empresarial


O setor empresarial se depara com um grande desafio no final deste século, que poderá colocá-lo como importante ator na construção de uma nova sociedade.

No desenho da sociedade do novo milênio, a sociedade civil assume um papel estratégico fundamental. Se até agora, em nosso modelo mental de sociedade, raciocinávamos com dois grandes setores, o privado e o público, teremos que nos acostumar com uma nova categoria conceitual, a das organizações da sociedade civil, o chamado terceiro setor. Pode-se representar esse desenho por três círculos que se interceptam, colocando na área comum de intercepção o ser humano, como objetivo comum das ações integradoras de cooperação entre as três esferas da sociedade.

O terceiro setor, tendo a solidariedade como valor básico das relações entre as pessoas, apresenta uma alternativa para o individualismo prevalecente nas relações mercantilistas. O mercado seria, metaforicamente, como um corpo sem alma. O terceiro setor não coloca como referências de suas relações a acumulação material, mas a mudança qualitativa das pessoas - o desenvolvimento do ser humano. Cria, desta forma, condições para que os atores sociais recuperem a sua dimensão humana e, com isso, possam aumentar a sua participação como cidadãos na construção de uma sociedade para todos. A participação direta dos cidadãos nos destinos do País, reduzida quase que exclusivamente ao exercício do voto, amplia-se para incontáveis possibilidades de intervenção pública, através das organizações sociais.

Entretanto, a dimensão da tarefa social ultrapassa as limitadas capacidades dos agentes do terceiro setor. O que o modelo exposto nos sugere é a possibilidade de uma sinergia entre os três setores para uma atuação interativa na construção de uma nova sociedade. Os graves problemas da sociedade afetam indistintamente as pessoas, independentemente da classe econômico-social a que pertencem. A violência é uma permanente ameaça a todos, o desemprego e a falta de perspectiva profissional ronda os lares de todas as famílias e o narcotráfico completa a tarefa de destruir o já tênue tecido familiar e social. São problemas de tais dimensões que acabaram resultando em uma aceitação do paradigma ganha/ganha como uma nova forma de mobilização social. Os antagonismos permanecem, mas isso não impede que se trabalhe na convergência de interesses com a finalidade de se atingir objetivos que melhorem as condições de vida de todos.

Ao assumir responsabilidades sociais, o setor empresarial estará atuando também dentro do paradigma ganha/ganha, pois ao destinar recursos para o desenvolvimento de pessoas e de comunidades (não necessariamente seus clientes diretos), estará atuando para a resolução da mais grave contradição trazida pelas inovações tecnológicas: o encolhimento do mercado.

Pesquisas demonstram que o terceiro setor é bastante modesto. O terceiro setor depende de recursos que são transferidos de outros setores para sustentar suas atividades. Os estudos realizados nos principais países desenvolvidos revelaram que 47% desses recursos se originaram de doações familiares, 43% de transferências do Governo e que o setor privado contribuiu com somente 10%.

Assim como na avaliação dos países passou-se a dar destaque aos indicadores de desenvolvimento humano, cada vez mais as empresas serão julgadas não somente por seus resultados econômico-financeiros, mas também pelo seu "balanço social". O terceiro setor abre a oportunidade para essa atuação integradora, pois é lá que se encontram as grandes demandas por melhoria nas condições de vida e, portanto, as oportunidades para o investimento social.

Artigo do Prof. Luiz Carlos Merege - Coordenador do Centro de Estudos do Terceiro Setor, sugerido pela colega Karine Lugo.
O terceiro setor e a nova ética empresarial O terceiro setor e a nova ética empresarial Reviewed by Jonas Schell on outubro 14, 2010 Rating: 5

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