Entrevista com João Pedro Stedile Integrante da coordenação nacional do MST
O economista João Pedro Stedile, 56 anos, é quem dita a linha política seguida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ontem, em Porto Alegre, onde participa do Fórum Social Mundial, ele falou que o MST passa por um "momento de reflexão". A invasão de terra está deixando de ser, segundo ele, o carro-chefe por não fazer mais aliados políticos. O novo caminho passaria pela aliança com os trabalhadores urbanos. A mudança de foco não é pacífica. Há um debate forte entre os militantes, que já levou a confrontos ideológicos, principalmente no Rio Grande do Sul.
A seguir, trechos da entrevista concedida ontem a ZH:
O que mudou no MST? Não foi o movimento que mudou. Foi a luta pela terra. Nos anos 70 e 80, uma parcela da burguesia nos apoiava porque apostava em um modelo de desenvolvimento industrial que precisava de mercado interno para vender os seus produtos. Cito como prova desse apoio o plano de reforma agrária de Sarney (José Sarney, presidente do Brasil entre 1985 a 1990), que pretendia assentar 1,4 milhão de famílias. Isso mudou com a implantação do modelo neoliberal que consolidou o agronegócio, que depende do capital financeiro e das empresas transnacionais.
Qual a reflexão desse momento na política interna do MST? Estamos em um momento de reflexão, pensando em um novo modelo para seguir. Nos anos 70 e 80, bastava ocupar terras e se conseguia apoios que resultavam em pressão política. Hoje, a ocupação de terra não soma aliados. Portanto, não interessa mais. Estamos buscando novas alternativas para fazer aliados. E a que está se mostrando mais compatível é a aliança com trabalhadores da cidade.
Como fazer alianças se o movimento enfrenta uma onda de antipatia na opinião pública? É manipulação da mídia. Temos o apoio do povão do interior. Antipatia é de classe. Antes falavam mal do Lula.
Mas o presidente Lula mudou. É possível que a necessidade de aliança leve o MST a repensar estratégias de luta, hoje consideradas antipáticas pela população, como o fechamento de estradas? Tudo está sendo repensado com a finalidade de dar prioridade às alianças políticas, para somar forças na luta contra o inimigo atual: o modelo de desenvolvimento.
No ano passado houve o episódio da invasão do prédio do Incra. Na ocasião, a Polícia Federal apurou o desaparecimento de vários equipamentos, como notebooks. Também houve depredação do prédio. O que aconteceu? A explicação mais razoável que ouvi até agora é que fomos vítimas de infiltração em nossas fileiras de pessoas que praticaram o roubo e a depredação com objetivo de prejudicar a imagem do movimento. Essas pessoas também implantaram um caderno (um diário que relata reuniões e estratégias da organização achado por ZH no estacionamento do Incra) que acabou saindo em uma reportagem.
Vocês localizaram os infiltrados? Ainda não. Essa é uma das escassas vezes em que há infiltração com esta finalidade no Rio Grande do Sul. É comum em outros Estados.
Na semana passada, a Polícia Federal prendeu em Herval assentados envolvidos com furto de gado. Também houve infiltração? Não foi um problema de infiltração. São assentados que têm laços familiares com ladrõezinhos da cidade e acabam se envolvendo.
Há uma década o movimento vem incluindo em suas fileiras pessoas de vilas urbanas. Que influência eles têm hoje no MST? Esse pessoal representa uns 15% do contingente dos sem-terra aqui. Ainda é cedo para fazer uma avaliação.
Qual a importância da eleição presidencial na arquitetura de alianças que está sendo gestada pelo movimento? Não terá influência, porque não irá mudar o modelo. Vai ser apenas uma polarização entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).
Qual candidato o movimento apoia? Somos contra o Serra.
Ao mesmo tempo que é uma verdadeira vergonha, um movimento que atualmente caracteriza-se por sua estagnação, marginalização (no sentido amplo da palavra), desorganização e tem consiência disto, por sua vez, e claro positivamente se dá conta de que está mais do que na hora de adotar uma nova medida de Gestão, claro ai depende da forma politica que eles irão adotar, porém devido aos últimos acontecimentos não podemos esperar algo bom, apenas para nós estudantes de Gestão vale ressaltar o quão importante ela é hoje em dia. Karine Lugo (Aluna de RH)
A ocupação de terra não soma aliados
Reviewed by Jonas Schell
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janeiro 28, 2010
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