Um doze avos é o quanto acredito na tecnologia. Todo resto depende do ser humano que a utiliza. Vou explicar. Um doze avos é quanto meu pai tem de visão. Soube disso quando, aos 9 anos, fui com ele em um oftalmologista famoso em Campinas. Porque o médico não falou “8,33%” jamais saberei, porém, como já havia estudado frações, entendi que era pouco. Muito pouco. E que esta deficiência congênita iria avançar nos próximos anos até que não restasse um avinho sequer.
Mas meu pai recusou aquele diagnóstico, assim como todos os anteriores. Ele sempre quis muito enxergar! E se não fosse o suficiente, que fosse então mais longe. E assim ele fez por toda a vida. Enxergou com o coração. Enxergou com lógica, enxergou antes, usou a criatividade, e sempre ralou muito mais que os outros para enxergar melhor. Capacidade que usa até hoje, com quase 70 anos, para trabalhar como representante comercial (e ainda vender pra cacete!). Ou seja, meu pai usou sua tecnologia biológica “embarcada” da melhor maneira que pôde.
Foi um piloto hábil do equipamento limitado que recebeu, mas isso não foi impeditivo algum para que ele prosperasse em todos os aspectos da vida. Obviamente, o pai não é a única pessoa que superou a si mesmo com trabalho e persistência: é mais um exemplo dentre tantos seres humanos com necessidades especiais que se opõem ao destino esperado, apertam o foda-se para seus limites e escrevem histórias de vida improváveis.
Quanto a mim, creio que, desde aquele dia, me senti um pouco responsável por ajudá-lo a ver. O que na verdade até aconteceu… para procurar um número no guia telefônico, ler cláusulas minúsculas de algum contrato, ou enfiar linha no buraco de uma agulha. Na maioria das vezes, ele quem me ajuda a enxergar, até hoje.
Pensei nisso poucos dias atrás, quando me instruía sobre Marketing Digital, algo que preciso aprender ainda muito mais que sei. Ou desaprender. Porque a memória sobre a trajetória de meu pai e tudo que eu vi nele e com ele, inclusive trabalhando juntos em algumas fases breves da vida, só serviu para questionar os processos de automação de vendas. E concluir que nada adiantam sem bons pilotos. Gente que cuide dos onze doze avos que faltam para que a tecnologia cumpra seu objetivo.
Daí foi fácil exportar o raciocínio para minha área de expertise, a Comunicação Corporativa. Já tinha caído a ficha de que pouco adianta digitalizar a comunicação de uma empresa sem executar serviços imprescindíveis para garantir que interesses e necessidades dos colaboradores sejam atendidos, sem contar boas histórias e atuar offline junto aos líderes para que o ambiente virtual seja apenas a extensão de um ambiente real de transparência, diálogo e engajamento.
Só não tinha percebido ainda esta proporção: um doze avos. Ou oito e uns quebrados por cento. Tanto faz. Não há qualquer correlação matemática, religiosa, astrológica ou literária aqui, tipo uma sequência de Fibonacci – o que seria bem bacana até, mas não.
Apenas estou forçando uma generalização com base no exemplo mais forte e presente que tenho de superação de uma tecnologia precária, aliado aos muitos erros que a experiência em quase duas centenas de projetos de comunicação me permitiu acumular (ainda bem, porque um especialista é forjado com seus erros, os acertos ensinam muito pouco), para afirmar que os softwares são a parte menos determinante para a transformação digital.
Isso não significa que a tecnologia não seja importante. É fundamental! Ainda mais em um cenário competitivo de alto desempenho. Pense comigo: apenas 25 décimos de segundo separaram Usain Bolt do oitavo colocado, o americano Trayvon Bromell, na disputa da medalha olímpica dos 100 metros rasos em 2016. Obviamente, os tênis de corrida de todos atletas de alto desempenho participantes da prova eram de igual qualidade, mas se “The Lightning” tivesse corrido descalço, ou com um par de kichutes, provavelmente não seria o vencedor.
A tecnologia, portanto, em um mundo exponencial, é um fator de elevação e nivelamento do homem a patamares mais altos, não necessariamente um diferencial – este continua sendo o próprio ser humano, mas a melhor tecnologia aliada aos melhores profissionais pode ser o “pentelhonésimo” que falta para se atingir o topo.
Se está em dúvida, então dê a melhor tecnologia para humanos desinteressados e compare seu desempenho com a pior tecnologia dada a pessoas competentes e engajadas. Tenho 91,67% de certeza que o segundo grupo vai se sair bem melhor que o primeiro.
Este post foi criado por Daniel Costa, que é administrador de empresas, especializado em Gestão de Pessoas e Dinâmica dos Grupos, reuniu vivência acadêmica no curso de mestrado em Organizações do PPGA/UFRGS, professor de pós-graduação, coach de grupos, formador de líderes comunicadores, palestrante e consultor.
Fonte: Portal PROGIC.
Um Doze Avos
Reviewed by Jonas Schell
on
fevereiro 18, 2019
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